quinta-feira, fevereiro 20, 2014

Os sonhos têm cor?!

As ruas são paralelas ou transversais, não há rotundas nem atalhos.
Os prédios, esses, acompanham o recortar da calçada sem abrir espaços nem criar travessas.
O trânsito segue, curvando primeiro a dianteira e só depois, num movimento curvo, se lhe seguir a traseira dos carros.
A vida corre, a par com as horas e de acordo com os movimentos certos, coordenados com o estado do tempo.

Sigo em frente e viro na terceira à direita.
Devolvo o mesmo sorriso de todas as manhãs.
E demoro-me nas floreiras abertas à imaginação.
Carrego os sacos com as compras e as memórias lá dentro fechadas.
E volto ao ponto de partida pela rua mais curta.

Passaste por mim, num dia qualquer, no passeio mais largo, e sorriste um olhar da cor dos sonhos.
Devolvi algo entre o vermelho da cara e o verde tímido das floreiras.
Demorámos entre palavras tão vivas e vontades tão esquecidas que, esquecemos os ritmos da cidade. 
Na despedida trocámos algo por alguma coisa, embrulhado nos sacos.

Seguimos pelas ruas, perdidos do mundo, tropeçando nas transversais.
Aqui e ali descobri jardins entre os prédios e até um atalho directo á minha porta.
O mapa com os cafés, os sinais, os sentidos das ruas e até a saída, desarrumou-se.
Os sacos, os teus, abriram-se e espalharam pelo chão as tantas palavras, sorrisos, olhares e sentires que, naquele dia, trocámos.

Todos os dias volto à rua do passeio mais largo.
Procuro uns olhos sorrindo a cor dos sonhos.
Aguardo palavras tão cúmplicemente repetidas.
E embalo as vontades, despertadas num dia qualquer.

O vento sopra forte por entre os prédios arrumados.
O sol esforça-se para entrar no mapa, enquanto se vai deitando sobre Monsanto.
Uma ambulância, mal parada, gera o caos na fila de carrinhos de brincar.
E a vida volta a correr, ou a demorar, nas horas que cantam no relógio da Igreja.

Como era a cor dos sonhos?...


Liliana