terça-feira, abril 24, 2012

É noite de Liberdade...

É noite de liberdade! Digo-te eu com os olhos cheios de lua!

Sabias que hoje as estrelas dançam livres no céu?
Sabias que hoje os sonhos se libertam e se soltam das camas onde, sonhados, os donos se deitam?
Sabias que hoje as letras se apaixonam e, dançando, formam novas palavras livres?
Sabias que hoje a música se revolta e, fora das pautas, soa mais alto e mais forte?
Sabias que hoje os livros saltam das estantes e as histórias, livres, gritam pelas ruas?

Livremente confesso que, mesmo hoje, é difícil aceitar a diferença que, por ser livre, se afasta de mim...
Livremente confesso que, ainda hoje, me assusto ao perceber outros caminhos tão longe do meu...
Livremente confesso que, só hoje, percebi que para o meu conto ser livre, terá de aceitar outros finais que dele discordam...

É noite de liberdade! E este cravo é a prova que te liberto para que, também eu, seja livre de continuar a acreditar!


Liliana


"Querida Joana:


Como sabes eu estou preso mas também não sou um homem mau. Viste como foi. Não sejas rabujenta e ajuda o Pedro. Se ele estiver birrento lembra-te que ainda é um bebé e tu mais crescida que ele. O que eu não gosto é que sejas egoísta porque é muito feio. Se algumas das tuas amigas querem tudo para elas deixa lá. Elas fazem mal mas tu não. Explica-lhes que não devem ser egoístas. Tem cuidado com os sugos e outras porcarias iguais porque podes ficar sem dentes. Depois, mesmo que os queiras ter já ninguém tos pode pôr. Ficas como os velhinhos. Alguns deles tinham a mania de comer goluseimas, gelados e caramelos. E também chocolates.
Eu lembro-me muito de ti e do Pedro. O Zé ainda não cortou as barbas? Diz à Lena que eu não gosto que ela seja desarrumada. Todos têm de ajudar a mãe e a Dina...
Muitos beijos do
Zeca Pai"
in "José Afonso Textos e Canções"