segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Andar... Lembras-te?!

Andar, andar... Lembras-te de andar até ao farol nos dias de nevoeiro? Quando as nuvens eram tantas que nem a força do Sol era suficiente para as afastar e mostrar o azul-claro do céu. Lembras-te? Lá íamos nós, saltitando, em frente à avó que, sempre muito bem apresentada com a sua saia às riscas e a uma blusa branca imaculada muito bem engomada e "encorpada", nos seguia atenta e desperta.

Olhar o mar ao fundo, as marés vivas batendo nas rochas e, de manhã, "quem se lixa é o mexilhão" dizia ela ao descer até à praia, os destroços duma noite agitada espalhados pela areia em forma de conchas e algas, com que brincávamos aos restaurantes na eterna espera pela bandeira verde, que nunca chegava.

Correr pelas ruas subindo até à pensão São Pedro onde o avô, pontualíssimo, esperava por nós já sentado à mesa para o almoço. Depois as esperas, tempo que pingava tão devagar na ampulheta das férias realmente grandes. Esperas pela sesta, pela hora menos quente, numa terra tão pouco quente, pela volta à praia. Esperas feitas lanches no hall, com os pãezinhos e os bolos da padaria e as manteigas do pequeno-almoço. A criatividade meiga dela. A sua forma de nos abraçar sem enlaçar os braços à nossa volta, mas amparando a ansiedade e tornando o tempo num aliado.

Voltar à praia, sempre fresca e de bandeira quase sempre vermelha, sozinhas, num inspirar de liberdade misturada maresia e um chapéu-de-Sol às flores. Voltar à praia ao nosso ritmo, à nossa responsabilidade de quase-adolescentes conquistada a ferros por muitos "por favor!!!!" e "qual é o problema?!?!?" choramingados aos ouvidos dela....

Os jantares, com os primos do Porto e os vestidos aprovados pelo seu olhar exigente e o casaco, claro, sempre acompanhado de muitas resmunguices e alguns ralhetes. A noite ainda tão criança, e os passeios com o mar ao fundo e os concertos de verão. Lembras-te? Andar pelas ruas ao luar, comendo colares de pinhões e cantando os gingles da rádio...

Andar... Andar, pela estrada à beira-mar, sair da vila e correr com o sal do oceano na cara e o Sol filtrado pela neblina. Andar até ao farol com a avó que inventava lanches e super-visionava vestidos... Lembras-te?

Liliana