segunda-feira, janeiro 23, 2012

Dias (en)gripados...

Aqui, dentro de casa, o ar está frio arrepiado pelo vento norte que o Sol brilhante, mas distante de inverno, não chega para aquecer.

Lá fora as pessoas passam, alegres, apressadas, embrulhadas em casacos e camisolas de lã, que lembram as que a minha bisavó fazia, e gorros e cachecóis coloridos.

Aqui, dentro de casa, o tempo espreguiça-se em movimentos lentos que me baralham o corpo e alteram o hábitos.

Aqui, dentro de casa, sinto o frio mais forte dentro de mim. Espreito a rua pela janela e deixo que a luz me afague a cara corada da febre. Não espero nada nem tenho pressa, estou apenas, neste embalo de sono leve, interrompido apenas pelo frio, que se estende pela tarde dentro e me deixa sem forças.

Aqui, dentro de casa, o mundo parece ter parado talvez à força da febre que me deita, ou do dorido do corpo que amolece.

Lá fora tudo se passa como habitual, as crianças apressam-se nas escolas, inquietas com a proximidade da hora de saída, os carros dançam pelas estradas, num exercício de paciência, e o mundo avança alheio a mim.

Aqui, dentro de casa, aqueço a água para o chá e não me consigo concentrar no que tinha de fazer se estivesse lá fora... Sei que há coisas por fazer, fios por enrolar e gavetas para arrumar... se estivesse lá fora... Porque aqui, dentro de casa, a urgência dilui-se no tempo que apenas sei passar pelo relógio vizinho que conta a vida que vive lá fora, no mundo que não pára nunca apesar do que se vive... dentro de casa.

Liliana