quinta-feira, junho 02, 2011

Não me sei daqui

Não me sei daqui, nem mesmo daí...
Não me reconheço nas águas paradas deste lago que me rodeia
Não me sinto, assim, como me vês
Não te toco como pensas sentir-me
Não me aproximo... porque não sei onde estou

Perdi-me no meio deste caminho, desenhado a fogo nas muralhas do tempo, que fecho à chave no armário dos vestidos de carnaval
Perdi-me de mim ao tentar chegar a ti, e agora não me sei daqui, nem mesmo daí...

Encontrei a minha sombra caída numa noite de tempestade, em que as águas revoltas romperam as barreiras e inundaram o mundo, o meu mundo
Encontrei a minha pele num deserto estendida na areia, despida de mim, despida de vida, e tentei em vão perceber-me nela

Perdi um pouco de mim em cada esquina que dobrei, nas curvas do tempo que os relógios teimaram impor-me sem descanso
Há dias em que me encontro num olhar vagamente conhecido, numa voz familiar, mas nunca os consigo vestir, e acabam sem excepção fechados no armário dos disfarces

Não me sei daqui, nem mesmo daí...
Não me reconheço nem gosto da imagem que vejo no espelho das águas


Liliana