Eu tenho de ser EU...
Entender-me como personagem principal desta peça, quantas vezes desinteressante, que vivo todos os dias... e perceber-me, também eu co-responsável pelo guião. Pensar que se quero flores em vez de pedras, basta-me semear bolbos e regar os vazos.
Mas tenho medo... medo de ser EU. Medo de não saber o que é ser eu própria, escolher as sementes erradas, plantar fora da época e não recolher frutos.
Eu tenho de ser EU...
Seguir o meu caminho de acordo com as minhas escolhas livres, opções cautelosamente pesadas na balança do coração, que é onde se joga toda a tensão dramática do texto.
Por isso um dia decidi que regaria todos os vazos, os meus e os teus (que me lês), os de todos que se cruzam comigo e ainda alguns abandonados, vazos de ninguém.
Esta é a base, o palco, onde assento os pés e espalho palavras que, a todo o custo, revisto de sonhos e polvilho de esperança, enquanto sonho nas flores que nascerão por aí.
Mas às vezes é difícil... ser EU. E acreditar que o um mundo pode ser um pouco mais colorido, sabendo que eu sou a tal co-responsável pelo guião...
Liliana
"Fado da Tristeza" de Manuela de Freitas e José Mário Branco