Acordo de um sonho pesado e olho em volta. Nada me sorri. A inquietação permanece. O tremor interno não desvanece. Os medos espreitam pelo caminho ainda aberto entre a realidade e o sonho.
Sento-me na cama e respiro fundo, procurando a calma da cidade adormecida. Estou sozinha. Ainda e sempre só.
Olho-te dormindo e oiço o respirar infantil do quarto ao lado. Todos tranquilamente envolvidos num manto de sonhos calmos e mornos.
Levanto-me e abro as portas da varanda para espreitar a Lua, minha confidente. Não a encontro, no meio dos prédios e das árvores, a única coisa que a noite me oferece é um pequeno quadrado de céu, vagamente estrelado... Estou sozinha. Ainda e sempre só.
Uma brisa mais fria percorre-me o corpo e volto para dentro com um tremor interno que me leva de volta à inquietação do sonho. Os medos aproximam-se, aproveitando as sombras, e eu caio num remoinho de lembranças que não sei se vivi e perco-me nas marés vivas dum pânico tão familiar como a noção de mim própria.
Estou sozinha, e não consigo pedir ajuda. Grito, mas as palavras ecoam no silêncio da casa. Ainda e sempre só.
Respiro fundo trazendo-me ao colo de volta à realidade. Procuro os miúdos como último refúgio duma paz que me parece tão longe. Aconchego-lhes os lençóis para me sentir segura. Beijo-lhes a cara quente para não me sentir só. Canto-lhes uma canção de embalar para não me perder de novo.
Liliana