sábado, novembro 27, 2010

Não me posso adiar, António!

Hoje apetece-me ser transparente. Dizer o que me vai na alma, sem me conter pelo medo de quem me pode rejeitar. Falar de mim sem me importar com os outros que me vão culpar, sem receio de quem posso, eventualmente, magoar.

Hoje apetece-me gritar alto que, às vezes, me estão a assustar. Que, em tantos dias, me dizem coisas que me doem. Que, quando não me vêem, me magoam e que, sempre que me ignoram, me fazem sofrer.

Enfim, hoje quero largar o cesto de medos em que tantas vezes me afundo. Quero partir o espelho que me devolve a imagem que outros reflectem. Quero soltar as cordas que me amarram na necessidade de agradar. Quero calar as vozes que dizem que me vão abandonar no minuto em que me mostrar.

Estou cansada destas teias que se entrelaçam em não-ditos, destas nuvens de mal-entendidos que ensombram os dias, e desta sensação de estranheza ao olhar à volta e ver apenas caras veladas, meias cobertas por véus de desconfianças e inseguranças... Estou cansada que projectem em mim verdades que não são minhas, que me colem à pele máscaras criadas por outras vidas!

Não me apetece olhar para ti e ver o jardim de mil flores com vista para o mar que esconde o enorme castelo de cartas onde me queres guardar. Nem para ti, que me queres vestir o teu casaco preferido sem me perguntares se tenho frio. Nem mesmo para ti, que até me deixas acreditar que me dás a mão mas acabas por fugir quando procuro um ombro.

Não quero continuar a estar aqui. Quero SER, aqui... ali... onde estiver, onde for... o que sou.

Liliana



"Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob as montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas

Não posso adiar este braço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração"

"Não posso adiar o coração" - António Ramos Rosa