domingo, dezembro 13, 2009

Perdoa-me Chico...

Perdoa-me, mas não quero ser igual a ti.

Não tenho nada contra ti, nem contra o teu aspecto, nem contra as tuas ideias, nem contra a tua atitude, nem mesmo contra a tua vontade que eu seja... igual a ti. Não tenho nada contra nada de ti.

Peço, simplesmente o direito a não te ser igual.

Sei que te parece impossível este caminho que trilho todos os dias debaixo do sol que, teimosamente se ergue dia após dia após dia. Sim, eu sei que te é duro ver-me correr deste lado da lua. Eu sei, e por isso te peço que não tentes compreender, não queiras explicar, não te preocupes em entender.

Acolhe-me simplesmente, nesta possibilidade de ser não igual a ti.

Dá-me a mão e senta-te comigo sem que a minha diferença te magoe. Chega-te a mim e deixa-me encostar a ti, aqui neste bocadinho de mundo onde tudo é vago e pouco concreto, aqui onde a luz não deixa ver as cores, nem as formas, nem os gostos, aqui onde todos podemos ser diferentes.

Acolhe simplesmente, esta possibilidade de ser não igual.

É aqui que te quero encontrar, neste lugar que procuro há mil anos sem nunca chegar a encontrar. Neste lugar onde eu continuo a acreditar que todos nos podemos cruzar, sem atropelos, nem pressões, nem feridas, nem mágoas. Neste lugar onde me sento descalça e te peço perdão ao mesmo tempo que te estendo a mão e te perdoo, por não seres igual a mim.

Liliana


"Te perdôo
Por fazeres mil perguntas
Que em vidas que andam juntas
Ninguém faz
Te perdôo
Por pedires perdão
Por me amares demais

Te perdôo
Te perdôo por ligares
Pra todos os lugares
De onde eu vim
Te perdôo
Por ergueres a mão
Por bateres em mim

Te perdôo
Quando anseio pelo instante de sair
E rodar exuberante
E me perder de ti
Te perdôo
Por quereres me ver
Aprendendo a mentir (te mentir, te mentir)

Te perdôo
Por contares minhas horas
Nas minhas demoras por aí
Te perdôo
Te perdôo porque choras
Quando eu choro de rir
Te perdôo
Por te trair"
"Mil perdões" de Chico Buarque