segunda-feira, julho 27, 2009

Vem conversar comigo, Carlos...

Vem conversar comigo para que eu me oiça enquanto falamos e me entenda nas palavras que de mim saem.

Senta-te aqui bem pertinho, deixa-me embalar e ganhar confiança para me lançar. Depois conversa comigo, devagar, dando espaço para que eu me oiça bem.

Vem conversar comigo mas não fiques aí, espectador de um monólogo, ajuda-me a fazer as perguntas certas para que oiça as respostas que a mim mesma dou.

Senta-te aqui ao meu lado e fala tu agora, fala para que te oiças, pausadamente e com calma para que nenhuma palavra te fuja.

Vem conversar comigo que eu quero ouvir-te e na volta de cada frase perguntar-te o que perguntarias se contigo falasses.

Senta-te pertinho de mim para que consiga acolher cada palavra tua como se minha fosse, embalá-la e olhá-la de perto que "quem não vê olhos, não vê corações".

Vem conversar comigo para que, dando espaço às minhas palavras, abras caminho às tuas e, em conjunto, as vejamos voar e, por fim, oiçamos o que afinal nos querem dizer.

Senta-te ao meu lado e partilhemos palavras que é isso que os amigos fazem. Aprendamos um com outro a arte de repartir os silêncios certos, onde as palavras de cada um ecoam e se mostram despidas das entrelinhas que no barulho das luzes as deixam desfiguradas.

Liliana Lima




"Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre,
e minha procura
ficará sendo minha palavra."
"A Palavra Mágica" de Carlos Drummond de Andrade
in 'Discurso da Primavera'