segunda-feira, fevereiro 02, 2009

De que cor são os teus olhos, Jobim?


Saio de casa atrasada, qual coelho da Alice correndo atrás dos ponteiros irrequietos do relógio. O dia está triste, o sol espreita mas não consegue derreter o muro de nuvens espalhadas pelo céu.

Desço a avenida, com um sapato calçado e outro ainda na mão, saltitando ao pé coxinho até o calçar. Ao fundo o Tejo acompanha a minha correria, em pequenas ondulações que o despenteiam e agitam. Paro para o cumprimentar.

As nuvens abafam a luz e cor das águas mergulha indecisa, entre o cinza e o azul. Esqueço-me dos ponteiros que giram ao som dos carros e olho demoradamente as águas procurando a cor azul dos olhos do meu avô. Alternam-se o cinzento e o azul das águas com o passar da brisa e da corrente que as faz dançar.

Todos diziam que os teus olhos eram cinzentos, mas são azuis. São azuis da cor das manhãs de primavera! São azuis da cor do cheiro do verão e do mar! São azuis da cor dos sonhos impossíveis!

Sabes? Tenho saudades do azul dos teus olhos, por muito que todos digam que eram cinzentos, para mim eram azuis, de um azul vivo, alegre.

Seria o azul dos teus olhos somente para mim? Gostava de pensar que o guardavas só para mim, escondido entre o cinzento que mostravas ao resto do mundo!

E, no entanto, aqui estão eles, alternando entre o cinzento e o azul, como as águas do Tejo que dançam com a brisa e a corrente... Mostra-me o azul do teus olhos só meu!
Não tenho pressa, posso esperar...

Esperemos os dois pela hora certa, enquanto os carros de um lado para outro atrás dos ponteiros irrequietos como o coelho da Alice...
Tenho tempo. Para ti, para o teu azul meu, azul dos teus olhos.

Fico aqui, sentada à beira-rio, esperando que o sol me devolva o azul do Tejo dos meus olhos do meu avô.

Liliana Lima 02/Fev/2009

"Esse teu olhar
Quando encontra o meu
Fala de umas coisas que eu não posso acreditar...
Doce é sonhar, é pensar que você,
Gosta de mim, como eu de você...
Mas a ilusão,
Quando se desfaz,
Dói no coração de quem sonhou,
Sonhou demais...
Ah, se eu pudesse entender,
O que dizem os seus olhos."
Tom Jobim