Somos de todo o mundo, trazemos na boca todos os credos, todas as línguas no coração.
Somos loucos, amantes, poetas andantes e cavaleiros errantes. Vagabundos e saltibancos; corremos atrás do amor com o céu às cavalitas.
A nossa casa é todo o mundo, falta só pôr o telhado.
Nos quartos lançamos feitiços à lua e lemos a sina às estrelas cadentes.
Pintámos um baloiço na janela para embalar os sonhos ao ritmo das horas que correm da esquerda para a direita.
Lá em baixo uma lareira consome as angústias e o calor que espalha aquece as paixões aos novos visitantes, curiosos, sequiosos da pedra filosofal.
Somos de todo o mundo, vagabundos de amor, saltimbancos de alegria, corremos as cidades cinzentas com o céu às cavalitas e espalhamos poesia em cartas de amor.
Falamos por sinais e qualquer um que nos sorri, entra na nossa casa e come connosco descalço no chão.
Somos loucos, amantes, cavaleiros e soldados numa guerra sem batalhas, avançando com os corpos num confronto irreal.
Somos poetas saltimbancos, percorrendo a vida com o céu às cavalitas.
A nossa casa é todo o mundo, falta só pôr o telhado.
03-11-2006
Com “Casa inacabada com baloiço na janela”* de João Monge no ouvido.
*in O Assobio da Cobra