Sair de ti sem te trazer comigo
Não sei como te ver sem nos olhar
Não sei como te ver sem nos olhar
pelo espelho da memória no postigo
que abrimos e não consigo fechar
As faces da Lua continuarão a mudar
e os dias seguirão sem olhar para trás
Há caminhos e casas que construímos
em vidas tão dispares vividas em uníssono
numa distância oca que nos separa
Passo em revista os anos passados
e vejo-nos diferentes (por fora, pelo menos)
Invadem-me imagens desarrumados
que me levam numa viagem atribulada
por lençóis brancos amachucados
Sair de ti sem te trazer comigo
Não sei como te ver sem nos olhar
Não sei como te ver sem nos olhar
pelo espelho da memória no postigo
que abrimos e não consigo fechar
Há pontes antigas que teimam em não ruir
mas os barcos já foram para novas paragens
num movimento lento de aparente abandono
E o rio, esse, corre beijando outras margens
seguindo as marés comandadas pelo luar
Sei-nos dois, distantes, num agora afastado
caminhando e andando em sentidos diferentes
Oiço o silêncio demorado que agora nos une
rasgado por uma ou outra palavra escolhida
que nos deixa num limbo oco e impune
Sair de ti sem te trazer comigo
Não sei como te ver sem nos olhar
Não sei como te ver sem nos olhar
pelo espelho da memória no postigo
que abrimos e não consigo fechar
Liliana Lima