Não conheci o José Mário Branco. "Zé Mário" é como lhe chamam os amigos, que hoje parecem ser todos, é verdade, mas para mim foi sempre 'O' José Mário Branco.
Não o conheci? Se calhar sim... Quer dizer, o homem, o pai, o avô, o vizinho... na verdade não (com uma certa mágoa, posso dizer, agora que já não faz diferença nenhuma). Mas o poeta, o músico, o cantor, o exemplo, a ideologia, a luta, a força, a voz, o poeta, o cantor, o músico...
Porra, José! O tanto que aprendi contigo desde que, tão cedo, te comecei a ouvir!
O tanto que conversei e cantei contigo desde que, tão cedo, te conheci. Não foi, José?!
O tanto que descobri nas tuas letras...
Porra, José! Canções que me despem palavra-a-palavra desde que me sei quem sou. Como é isso José?!
Sem nos conhecermos. Nem nos cruzarmos, nos tantos cruzamentos em que tão perto fomos estando... Como é isso, José?!
O tanto que aprendi na força da tua interpretação. Estar lá todo, a cada nota, a cada frase. Porque a cantiga é uma arma, não é José?!
Sempre disse que, de uma forma impossível, tu me conhecias melhor que muita malta que de muito perto conviveu comigo...
Disse eu, e aposto que milhares de outras almas que te conheceram, como eu, no gira-discos e nas cassetes.
É que, tu não sabes José, mas eu guardo as tuas palavras dentro de mim. Contam-se comigo, da cabeça aos pés. Porque tudo depende da raiva e da alegria, não é José?!
Acho que é aqui que nos continuaremos a encontrar, com o tanto que temos para nos dar. Não achas, José?!
É que mesmo não te conhecendo, José, estou (eu e aposto que milhares de outras almas) a tentar fazer desta perda uma raiz, assim, por sobre a tua morte. Como em canções, mesmo sem quereres, me (nos) ensinaste.
Mas já que estamos a conversar, aqui que ninguém nos ouve, acho que se cá estivesses, de viva voz, era capaz de te ouvir dizer qualquer coisa do tipo... É pá, continuem a cantar-me, continuem a lutar, mas já agora vão ter com a malta que ainda está viva enquanto estão vivos, porra!...
Não conheci o José Mário Branco (com uma certa mágoa, posso dizer, agora que já não faz diferença nenhuma) ou talvez tenha conhecido... Quer dizer, o homem em si, não. Mas o homem que vive para sempre no legado que nos deixa, sim. E a esse digo:
Obrigada José Mário Branco!
Que bom conhecer-te!
Guardo em mim tudo o que de ti me confiaste
e sempre que Abril aqui passar
dou-lhe este farnel para o ajudar!
Até Já!
Liliana Lima