quinta-feira, junho 07, 2018

REALidade

Deixei de te dizer de mim
Da falta de vontade
de contar, sequer
E do caos instalado no fim
de tantos dias em que
em vez de descansar
me obriga a revirar o mundo interno
que se queria encerrar na concha
deitada ao mar

Porque demora a explicar
(e a entender...)
Porque cada palavra,
soletrada,
no seu mais baixo volume,
um dia, uma tarde,
uma noite qualquer
Será virada do avesso,
despida, interrogada e,
sempre sem querer,
rejeitada, incompreendida
fechada

Porque é este o signo
da loucura
trazermos em nós a semente
da mais pura clarividência
e com ela a sua irmã solidão
É que é não é possível
a (sobre)vivência
ao comum espectador, são,
aos maleficios da realidade
nua e crua

E por isso hoje,
esta noite pelo menos,
deixarei de te dizer de mim
Para que, em paz, possas dormir
por fim

Liliana Lima