domingo, maio 20, 2018

pa.REDE

Qualquer dia vou pendurar um jardim na parede. Quero flores lilás em cima para lembrar o céu e muitas folhas verdes a descer numa cascata salpicada de botões amarelos até desaguar num manto branco que lembrará nuvens, sentadas na terra. E sim, também vos quero lá, papoilas de mim, desenhando a vermelho o caminho concêntrico onde te perco e me encontro. 

Quando eu tiver um jardim na parede, ficará logo à entrada, para todos o verem e por ele passearem. É que uma parede assim, cheia de vida, olha-nos olhos-nos-olhos a cada encontro e diz-nos tudo o que a vida não diz ou esconde debaixo da terra.

Quando tiver um jardim pendurado, convido-te para um chá. E logo à entrada, antes de qualquer palavra, ficarás a saber tudo o que não te sei contar. É que um jardim assim, com o céu colado ao tecto, alto que é, e uma manta branca a tocar o chão, deixa à vista o sangue que escondemos de cada ferida que se fez cicatriz e que, juntas, desenham o caminho concêntrico onde me perco e te encontro. 

Qualquer dia, quando eu tiver um jardim na parede da entrada, deixará de haver entre-linhas, ausências ou silêncios confusos. Porque as flores tudo mostram nas suas pétalas e nada escondem por entre as folhas. E então conseguirei ver, desenhado a vermelho, o caminho concêntrico onde não me perderei e, com certeza, te encontrarei. Quando eu tiver um jardim pendurado na parede...

Lili