-Já foi há muito tempo.
Digo-te eu, ao fundo do corredor.
-O que é o tempo?
Perguntas-me em silêncio enquanto me dizes,
-Já não te lembras de mim?
Com uma estranheza sincera espelhada nos olhos que me espreitam, ao fundo do corredor.
-Claro que sim! Lembro-me muito bem de ti. Embora tenha passado tanto tempo.
-O que é o tempo? Voltas a perguntar-me em silêncio enquanto me dás um beijo e me deixas abraçar-te.
Eras uma menina tão pequenina que cabias no meu colo mesmo quando eu chegava carregada dos pesos que os dias constroem. E, de sorriso rasgado, desmontavas os muros e deixavas-me abraçar-te.
Depois corrias de um lado para o outro, brincavas com tudo e com nada e deixavas o Francisco cheio de ciúmes, a tentar ocupar todo o espaço do meu colo onde, por muito cheio que estivesse, havia sempre espaço para ti.
Mas isso já foi há muito tempo. Hoje és uma menina crescida e se calhar já nem cabes no meu colo.
-O que é o tempo?
Repetes em silêncio enquanto me mostras que este abraço é verdadeiro e caberá sempre no teu colo.
Foi há muito pouco tempo. Tão pouco que quase não chegava a tempo de te dizer que me lembrarei sempre de ti.
-O que é o tempo?
Perguntas-me enquanto aí, ao fundo do corredor, sorris e me dizes,
-Até já!
E sais para outro tempo. Aquele que nunca foi nem será. Aquele que não distingue o hoje do ontem, nem do amanhã.
Ao fundo do corredor, vejo-te entrar num tempo que simples e eternamente É.
E enquanto te vejo afastar, menina pequenina que cabe no meu colo, de sorriso rasgado que faz ciúmes ao Francisco, respondo-te,
-Até já!
Liliana Lima