quarta-feira, agosto 23, 2017

as VELHAS da praia

Sei que voltas. Mas ainda agora saíste e já algo de nós ficou. Um nó, uma rede, que caiu no porão com o embate das tuas malas.

Sei que voltas. Mas os minutos estendem-se para além das horas. E lá fora podia jurar que "as velhas da praia" a gritar... Mas, "São loucas! São loucas?"

Sei que voltas. Mas dói esta presença ausente que me faz esperar junto à janela desta lua que me/te ilumina como que numa promessa velada.

Sei que voltas. Mas não posso continuar a pedir às gaivotas que me guardem, "perfeito, o meu coração".

Sei que voltas. Mas tenho de me proteger, e ainda que 'tudo em meu redor me diga que estás sempre comigo', não te vejo, não te oiço, não te sei.

Sei que voltas. Mas quem és quando aqui não estás, não é quem por cá se instalou de pedra e cal 'dentro do meu coração'.

Sei que voltas. Mas pergunto ao luar como se volta depois deste afastar.

Sei que voltas. Mas sei também da surpresa, da interrogação, da não compreensão. E sei o quanto marcam a ferro e fogo o fundo do meu coração.

Sei que voltas. Sei até que já tentaste encurtar o caminho desenhado por ti a lápis azul no mapa astral dos planetas e constelações.

Sei que voltaste.
Mas como aquecer o vazio se "acordei tremendo deitada na areia"?

Sei que voltaste.
"Como sempre, como antes". Como se o tempo aqui tivesse congelado à espera do teu olá.

Sei que voltaste.
E foi no momento em que pegaste nas malas que me apercebi que quem fica não tem uma redoma onde pára os ponteiros e abafa os sentimentos.

Sei que voltaste.
Diz-me, então, que faço eu agora com a bagagem que nestas noites carreguei?...


Liliana Lima