quarta-feira, agosto 03, 2016

LiBerDaDe

Procuro o caminho desenhado na areia por um puzzle de quadrados de madeira, pintada dum azul que denuncia os muitos Verões que por eles já passaram em busca do mar.



Descalço-me e, em vez de seguir pelos quadrados, decido recortar eu própria um carreiro. Quantas vezes me perdi por não construir uma nova estrada para mim.

Avanço por entre o mato, contornando os arbustos e descobrindo outros trilhos rasgados, antes de mim, na areia. Ando sem medos nem receios e desaguo no limiar da falésia.

Em baixo apenas as escarpas amarelas da arriba fóssil que se desfazem em areia que descolora até, branca, entrar no mar. E o céu, azul, este forte e vivo, que mergulha no mar e não deixa encontrar a linha do horizonte.

Aqui, no cimo da falésia, onde finco os pés na terra e abro os braços ao vento, sou livre. Não trago o peso dos dias nem os ecos das noites.

Aqui, no alto da arriba, sou. Apenas eu. Estou. Apenas o momento. Sinto. Apenas o vento. Saboreio. Apenas a maresia. Vejo. Apenas o mar. Quero. Apenas tudo!



Olho para trás e vejo o caminho de madeira, pintada de azul há muitos Verões, e o trilho que acabei de abrir.

Inspiro fundo e desço as muitas escadas cravadas na areia. Aqui em baixo não há tempo nem espaço, faço parte da praia e a praia sou eu.



Procuro um caminho marcado na areia em busca do amanhã. O mar balança e numa onda dançada diz-me, sorrindo, que tenho em mim todos os caminhos do mundo…



Liliana Lima