Porque, por muitas voltas que demos, por muitos caminhos que encontremos e percorramos, ainda que, por vezes, nos percamos... voltamos sempre a casa. Voltamos sempre à nossa casa...
E quando voltamos, entramos devagar, olhamos em volta e reconhecemo-nos em cada canto desarrumado, em cada esquina esbatida, em cada ruga esquecida, em cada mágoa sentida, em cada sorriso deixado ao acaso em cima de uma prateleira...
Entramos devagar para nos reconhecermos, para sentirmos que estamos em nossa casa, aconchegamo-nos e sorrimos, aqui somos sempre bem-vindos!
Voltei à casa das letras que me levam pela mão, me fazem sonhar, me embalam, mas que não cabem noutro lugar senão aqui, na casa da curva das minhas letras...
Por agora, deixo aqui um poema cantado pelos Deolinda, em que no outro dia tropecei e que desde aí não mais me largou, porque tantas vezes me apetece "um dia juntar-me a ela"...
que o tempo passou
e o amor que acabou
não saiu ...
que há um fado qualquer
que diz tudo o que vida
não diz ...
que Lisboa não é
a cidade perfeita
para nós ...
que há um beco qualquer
que dá eco
a quem nunca tem voz...
sozinha a cantar
do alto daquela janela ...
Há noites em que a saudade
me deixa a pensar
um dia juntar-me a ela,
um dia cantar como ela ...
que eu nunca fui capaz
de encontrar a viela
a seguir ...
que o Tejo é lilás
e os peixes não param
de rir...
que o teu corpo não quer
embarcar na tormenta
do meu ...
Se o destino quiser
esta trágica história
sou eu."