Sou um poeta invertebrado
Faço perguntas às minhas próprias dúvidas e lembro-me
De um filme antigo quando percebo que não respondem:
silêncio a preto e branco.
Procuro no meu caderno de linhas direitas. Em tempos,
Andei na escola e tinha a régua mais bonita da terceira
Classe. Era um menino de meias e calções.
Encontro uma esferográfica sem tampa e sei que sou
O último kamikaze antes da derrota. É sempre assim:
Um sentimento trágico oriental sentido a Ocidente.
O meu coração está localizado a oeste. Quero invectivar
Contra a própria rosa dos ventos que me fez nascer:
Multinacional sentimento trágico: milhares de filiais.
Quando começo a anotar as minhas preocupações, tão
Importantes apenas para mim, já me esqueci de tudo:
Os segredos esconderam-se atrás de um muro.
Restam as metáforas, alinhadas por ordem de presumível
Intensidade. Escuto-as no meu walkman tonto e desaprendo
Outra vez de ser infeliz.
José Luís Peixoto
Faço perguntas às minhas próprias dúvidas e lembro-me
De um filme antigo quando percebo que não respondem:
silêncio a preto e branco.
Procuro no meu caderno de linhas direitas. Em tempos,
Andei na escola e tinha a régua mais bonita da terceira
Classe. Era um menino de meias e calções.
Encontro uma esferográfica sem tampa e sei que sou
O último kamikaze antes da derrota. É sempre assim:
Um sentimento trágico oriental sentido a Ocidente.
O meu coração está localizado a oeste. Quero invectivar
Contra a própria rosa dos ventos que me fez nascer:
Multinacional sentimento trágico: milhares de filiais.
Quando começo a anotar as minhas preocupações, tão
Importantes apenas para mim, já me esqueci de tudo:
Os segredos esconderam-se atrás de um muro.
Restam as metáforas, alinhadas por ordem de presumível
Intensidade. Escuto-as no meu walkman tonto e desaprendo
Outra vez de ser infeliz.
José Luís Peixoto