segunda-feira, setembro 30, 2019

Crónicas duma separação consumada V

Conheces aquele aperto no estômago e a vontade de fugir e a sensação de que tudo está muito mais lento do que o teu tempo interno, que antecede uma discussão anunciada?

Respiras fundo e, durante aquele breve instante, fazes conjecturas, ensaias respostas e imaginas acusações.

No momento seguinte apercebes-te que já comprometeste a promessa de não os envolver. Porque o mal-estar te levou a querer atalhar e perceber em primeira mão a onda prestes a cair sobre ti. Ou simplesmente porque, na verdade, é mesmo mais fácil perguntar.

Depois tentas compor a situação com pensos-rápidos e os "não te preocupes" vêm acompanhados dos "está tudo bem", mesmo quando não está.

E o aperto que não desaperta até saberes exactamente o que se está/vai passar que te continua a atordoar. 

Feitas as contas, o importante é mesmo o como não te deixares imergir neste estado que leva ao incumprimento dum acordo feito de ti para ti. Ou assim o devia ser. E para isso, o que se passará, ou não passará a seguir, não deve ser o epicentro da atenção interna.

Conheces aquele aperto no estômago que antecede uma discussão anunciada e, sem quereres (ou querendo, apenas para o aliviar) acabas por fazer, mais uma vez, aquela pergunta que devia estar bloqueada?

Um dia...

Um dia algures na tua, ou na tua, ou na tua vida, vão sentir, pressentir, ou em última (e pior) análise fazer sentir, esse aperto.

Nessa altura concentrem-se nos pensos-rápidos (tentando que sejam cada vez mais lentos) e desviem o futuro da vossa atenção. 

Peçam desculpa (é verdade, as desculpas podem evitar-se mas, mais cedo ou mais tarde, devem ser pedidas sem vergonhas) e concentrem todas as forças para o aqui e o agora. Mais tarde terão tempo, por muito que tenham vontade de fugir, de lidar com a crónica que se segue.

Por agora, desculpa. Tentarei mudar o penso não muito rapidamente.


Com muito amor,
Mãe