Lembras-te quando o tempo era meigo e as tarefas decorriam com a elegância dum bailado?
Esse bailado era, de facto, um pequeno teatro onde o guião ia sendo revelado à medida que a acção se aproximava.
O tempo, meus amores, é uma das variáveis da vida mais difíceis de conjugar.
Não é que os horários não fossem tão (ou quase) tão díspares como os deste ano.
Não é que, até certa altura, não vos acompanhasse no baile diário casa/escola/casa.
Não é que as actividades fossem muito menos que as que agora me apresentam.
Ou talvez seja isso tudo junto.
Na verdade, a distância aumentou e com ela o tempo (lá está) para cumprir horários.
Na verdade, passei a ter de vos acompanhar e, enquanto não se aperceberem que crescer é também aprender a viver de formas diferentes, sucedem-se os dias de esperas prolongadas em cafés onde vou fingindo que trabalho (embora, para além de levar o portátil, quase nada faça)...
Na verdade, as actividades "extra" escola, já se apresentavam complicadas, mas eram o pouco que saía do cenário de papel que embrulhava o vosso mundo. E hoje, com a distância, com a frequência e com os afazeres profissionais (que se querem) vários e diversificados, se esticar o papel, rasgo todo o embrulho.
A questão, meus amores, é que no tempo em que o tempo era como que um bailado harmonioso, eu, qual bailarina das sapatilhas vermelhas, corria de um lado para o outro sempre à beira do abismo.
E hoje que o tempo, finalmente, se soltou do pequeno teatro e decidiu alargar o seu espaço até ao maior dos coliseus, temo que as sapatilhas não sejam suficientes para tantas, voltas.
E, não se esqueçam nunca, liberdade não pressupõe caos.
Bom, o que tento dizer, desta forma complexa como complexa sou, é que o meu tempo não estica. Nem o vosso.
Nem é suposto que, o estar comigo seja sinónimo de tempo perdido em filas inúteis ou esperas infindáveis uns pelos outros que resultam sobretudo em cansaço, frustração e um distanciamento encapotado pelas necessidades, ou a narrativa que se faz delas, de cada um.
Nem é suposto que, o estar comigo seja sinónimo de tempo perdido em filas inúteis ou esperas infindáveis uns pelos outros que resultam sobretudo em cansaço, frustração e um distanciamento encapotado pelas necessidades, ou a narrativa que se faz delas, de cada um.
É que o tempo, meus amores, é uma das variáveis da vida mais difíceis de conjugar.
Com muito amor,
Mãe