As semanas em que não estão, são feitas de dias normais. Dias que nascem e põem-se ligeiramente mais para a esquerda, que vão ficando mais húmidos e frios e, de acordo com a dança do Sol em volta da Terra, são cada vez mais pequenos. Mas essas diferenças só se notam depois de passadas algumas semanas.
Na verdade, nas semanas em que não estão, alguns dias são programados com afazeres que conjugam melhor com a vossa ausência, trabalhos, deslocações, almoços ou jantares a que torceriam o nariz e a que não quereriam ir. Depois há os outros, em que "o rio corre, bem ou mal, sem edição original"(*).
Na verdade, nas semanas em que não estão, em cada dia há uma ausência que me acompanha, desde que o Sol nasce até que se põe. Que viaja comigo, que escreve comigo, que come comigo, que respira comigo, que sorri, conversa e abraça comigo. Dias há, em que só eu própria vejo esse silêncio de luz. Noutros, mostra-se sem timidez a quem está ao meu lado.
Na verdade, acho que posso dizer que essa ausência nasce dentro de mim, e que de dentro mim parece sair, como alguém que "tem tempo, não tem pressa"(*) e vai pintando as minhas horas cada vez mais claras até todo o relógio estar cinzento.
Na verdade, há dias, nas semanas em que não estão, que correm ao sabor da "brisa ... tão naturalmente matinal"(*) que os deixa alegres, tranquilos e felizes. Como é de esperar. Como é natural.
Na verdade, há dias, nas semanas em que estão, que nascem no caos dos minutos que seguem mais rápidos que os segundos, nas manhãs que se tornam madrugadas e nas almofadas que, comigo, vêm e vão ora ocupadas convosco ora à espera de vós.
Na verdade, nas semanas em que estão, há lanche ao sair da escola, pizza como jantar obrigatório de pelo menos um dia, filme que se divide por vários serões para ninguém se deitar tarde e beijinhos de boas noites.
As semanas em que não estão, são feitas de dias bons e dias menos bons, como as outras. A meteorologia depende de forças que nos são completamente alheias. Os acasos atropelam-se sem qualquer intervenção da nossa parte. E as obrigações são tão obrigatórias como em qualquer outra altura.
Mesmo assim. As semanas em que não estão (ainda) custam um bocadinho mais a passar do que as outras.
Com muito amor,
Mãe
(*)in Liberdade
de Fernando Pessoa
Poesias, Ática 1996