Sinto que me caiu o céu em cima. Este céu de cores escuras e esbatidas.
Não sei navegar por entre nuvens, esta velha bússola, que me levou dia-a-dia até ao dia seguinte, baralha-se, encrava, engana-se.
E eu perco-me às voltas para longe de mim.
Há ideias e palavras penduradas nas nuvens. Umas compreendo, aceito, sigo até. Outras, contudo, de tão pequenas nem as consigo ler. Outras de tão absurdas até parecem estar escritas ao contrário.
Mas todas elas se afastam ou escorrem em cinza e escurecem ainda mais as nuvens.
Os pingos de chuva que não param de cair enrigelam-me e paralisam-me. Nunca gostei da sensação da roupa que começa a pesar, a colar e a arrefecer o corpo.
Aproxima-se a costa e eu sei que em terra as gaivotas voam em círculos, a tempestade não chegou lá.
Congelo a chuva e no meio do iceberg deixo os sinais SOS e CQD (copiando o Titanic).
Ninguém entende um grito se não vir a ferida que o provocou.
Sinto o peso de todo este céu de cores escuras e esbatidas na roupa que trago ao entrar em terra, ou ao sair do mar.
Endireito as costas, inspiro profundamente o ar salgado (tanto do teu sal) e sorrio...
Liliana Lima