Nem sempre o mar é navegável
Às vezes as ondas não nos deixam velejar
Nem sempre, não, nem sempre o ar é respirável
Hoje as máscaras são mesmo para usar
Nem sempre o sol se põe num céu rosa
Às vezes nem se mostra, à noite, a lua
Nem sempre a poesia se confunde com a prosa
Tanta palavra se publica completamente nua
Não, nem todas as tónicas estão certas
Ou se juntam sequer, no copo, ao gin
Às vezes a voz arranha as arestas
Duma canção que se afina assim-assim
Nem sempre as casas são salas abertas
Com espaços amplos para todos os gostos
Às vezes os sofás estão vestidos com cobertas
E o cansaço reflecte-se nos rostos
Nem sempre o mar se mostra amigável
Embalando os navios em que decidimos zarpar
Às vezes o mundo é, ele mesmo, inenarrável
E a nós, resta-nos não nos deixar desequilibrar
Liliana Lima