Faz hoje treze anos do dia em que, pela terceira (e última) vez fui mãe. Tua mãe.
Os dias eram agitados e as noites tinham muitas vozes. Os abraços, a sério mesmo, tinham cheiro, sabor e força, e eram dados amiúde (penso até que os desvalorizávamos). Toda a gente dava dois beijinhos quando chegava e quando partia e os namorados passeavam de mãos dadas na rua.
Faz hoje treze anos! E hoje, pela primeira vez, não tiveste embrulhos nem os primos a correr pela casa, nem mesmo o teu irmão mais velho estará contigo à hora dos parabéns.
Hoje, pela primeira vez (e espero que última), vivemos o teu aniversário em quarentena, reclusos de um vírus que não sabemos combater e que nos afasta uns dos outros. E que me obrigou a mim, tua mãe há precisamente treze anos, à situação mais bizarra que me poderia ocorrer viver, ver-me obrigada a negar ao teu pai o direito de, simplesmente, passar o serão contigo e trazer-te de volta, porque fazes parte do grupo de risco. E que transformou um dia, naturalmente agitado, numa tentativa de alterar as rotinas, sem mais do que três saquinhos, de sugos, pastilhas e bolachas cobertas de chocolate e creme de avelã, para te oferecer à primeira hora da madrugada que esperaste ansioso no quarto.
Faz hoje treze anos do dia em que, pela terceira (e última) vez fui mãe. Tua mãe.
E hoje, ao mal estar que senti (aliado à vontade, sempre presente, de te ver feliz) tu contrapuseste uma alegria tão genuína, pura, despida de quaisquer preconceitos ou egoísmos, que nos serviste como lição de vida. E com o sorriso de menino que, aos treze anos naturalmente ainda tens, mostraste-nos que o importante não é estarmos aqui ou numa praia cheia de turistas. O que realmente interessa não é sermos nós os quatro em videoconferência com o Hugo e primos ou toda a família fisicamente reunida. O que valor do que se dá e recebe não se mede em muitas prendas com laços coloridos ou três sacos de doces. O importante é estarmos bem, com saúde, com espaço intelectual para sermos nós próprios e nos expressarmos sem constrangimentos, termos a capacidade de nos aceitar uns aos outros e às nossas idiossincrasias (às vezes antagónicas). O importante é sabermos acordar a cada manhã com vontade de viver mais um dia, seja ele de chuva ou de sol. O que é de facto importante, é procurarmos no nosso coração a inocência do amor de meninos, e só esse é inocente e capaz de nos mostrar o arco-íris que, sabes, sempre me inspirou (muito antes de qualquer tipo de catástrofe mundial, ou muito para além de qualquer tipo de pote no outro lado das cores).
Faz hoje treze anos! (e para mim talvez seja o dia 0) E, em quarentena, com a ementa possível, a família no écran dos telemóveis, os doces que repartiste pelos quatro, e o bolo de cenoura e chocolate que pediste, comemoramos o teu aniversário e com ele a vida e o amor.
Que bom ser tua mãe!
Obrigada por seres quem és!
Que a vida te permita manteres-te assim por muitos e felizes anos!
Com muito amor,
Mãe