quinta-feira, dezembro 05, 2019

Crónicas duma Separação Consumada XXI

Todos temos os nossos receios, normalmente projectados no tecto do quarto quando não conseguimos adormecer. 

Todos temos as nossas memórias mais ou menos reconstruídas, retocadas ou maquilhadas, no decorrer dos anos.

Esta é a época dos sonhos e das expectativas, que fecho à chave numa gaveta pequenina não vá o diabo vê-las e, por pura diversão, desmontá-las com um sopro como de castelos de cartas fossem. 

Meus amores, sei que a árvore que comprámos não era bem a queríamos, que ainda por cima não a conseguimos montar, e acabámos por ficar com uma miniatura do que imaginámos. 

Sei que este vai ser "o primeiro ano do resto das nossas vidas", e sei que todos estamos com muito cuidado, avançando bem devagarinho para ninguém se magoar.

Meus queridos, quero dizer-vos que sinto tudo o que vocês sentem, reflectido no tecto do quarto quando não consigo adormecer. 

Mas também vos quero dizer, e isto é que mesmo importante, que sei que quando o "tempo faz cinza da brasa, nasce um novo dia e no braço outra asa".

Sei que, quando estamos todos juntos, o tamanho da árvore não interessa nada.

Sei que o importante de cada dia é vivermos as escolhas do nosso amor e não das datas impostas pelo calendário.

Sei que, das prendas que trocaremos, as mais valiosas são as escolhidas para cada um em especial e não as que têm um talão mais avolumado.

Sei que as filhoses só ficam boas contigo a ajudar a tender e contigo a ajudar a passar na calda (e contigo a roubar do tabuleiro).

Sei que queres que este ano haja um "peru mesmo a sério, recheado e tudo", e assim será.       

Sei que não queres magoar ninguém, e que tudo fazes para a todos agradar (e, embora saiba também que isso, meu amor, não é possível, tudo farei do meu lado para não ser eu a mensageira dessa triste notícia).

Sei também que, embora pareças alheio, estás cá, à tua maneira, e é isso que devo valorizar.

Todos temos as nossas memórias, os nossos sonhos, os nossos receios. O desconhecido é, normalmente, causa de medos e ansiedades. E este é, afinal, "o primeiro ano do resto das nossas vidas". Mas quero assegurar-vos que tenho certeza de que o amor é, foi e será sempre, o pilar mais importante da nossa relação e isso faz toda a diferença! (tenha o pinheiro meio metro ou dois metros e meio de altura!)

Com muito amor,
Mãe