segunda-feira, novembro 25, 2019

Crónicas duma Separação Consumada XX

Meus queridos, tenho andado às voltas com uma preocupação que me assalta o sono de quando em vez. É assim como que um mau estar que aparece do nada e com o nada faz aumentar a pulsação e a sensação de que nada posso fazer a não ser deixar passar a onda...

Diz o poeta* que "é preciso avisar toda a gente", mas eu já não tenho essa pretensão.

Quero dizer-vos a vocês, meus amores, que o mundo não se pinta a preto-e-branco. 
Quero explicar-vos a vocês, meus amores, que as acções dos outros não se podem ler com os olhos de quem não fez a sua viagem, de quem não conhece o que carregam na sua bagagem.
Quero muito que entendam, meus amores, que sempre que julgamos quem se senta ao nosso lado, temos primeiro que experimentar o lugar onde seguiam.
Preciso de acreditar, meus amores, que vocês vão saber nadar contra a corrente e não seguir cegamente nenhum carreiro, porque mudar de rumo não é uma fraqueza é uma prova de inteligência e amor-próprio.
Quero ensinar-vos, meus amores, que ouvir alguém, ouvir a sério olhos-nos-olhos, não é obrigatoriamente entender, perceber ou mesmo concordar. Quantas vezes gostamos de pessoas de quem discordamos aqui e ali. 
Quero dizer-vos, meus amores, e acho que isto é muito importante, que ouvir/vendo as outras pessoas, é ser capaz de ser solidário mesmo quando não compreendemos ou concordamos totalmente com elas.

Diz o poeta* que é preciso "dar a notícia, informar, prevenir", assim o tento, mas não a toda a gente que já me deixei de utopias. 

Mas a vocês, meus amores, a vocês quero avisar que devem sempre desconfiar de discursos inflamados e muito cheios de si. Quem não tem espaço para dúvidas, não tem espaço para acolher o diferente. 
Mas a vocês, meus amores, a vocês quero explicar que quem não consegue acolher (reparem na palavra que escolhi) o que nos é contrário, estranho, difícil de perceber, nunca conseguirá ver o mundo para além duma paleta de cinzentos.

Diz o poeta* que é "preciso, imperioso e urgente", e vocês são as minhas flores. 

Por isso vos trago a notícia, a linha que divide o certo do "in"certo é ténue, curvilínea e muito instável. Não se encostem, não se deixem embalar, não cedam a certezas empacotadas com laços coloridos.

Pensem. Estudem. Questionem. Tomem decisões. Pensem. Questionem. Estudem. Mudem de rumo, se assim acharem. Pesem. Questionem. Tomem decisões. Questionem. Pensem. Questionem...   

Com muito amor,
Mãe





*Luís Cília - É preciso avisar toda a gente