terça-feira, outubro 30, 2018

Dançamos, Chico?...

Os corpos encontram-se no sofá num abraço longo que se estende com a sombra do Sol, que se retira
As mãos encontram-se a meio caminho do quarto onde as ondas já esperam, aconchegando os lençóis
Os olhos fecham-se para ver melhor tudo o que só se consegue ver fora do grande écran

E os lábios levando no beijo toda a carga dos sentimentos que cantam, desde a praia até ao alto da cidade
Os sentidos (con)fudem-se numa mistura de odores húmidos que se concentram nas quatro paredes sem pudor do espelho
E a respiração, ignorando o compasso, deixa-se levar pelas marés vivas que cobrem a praia e escondem a areia

O tempo pára. De verdade. E na rua todos se recolhem, respeitando o amor que ali se vive

Os corpos mantêm-se juntos, sem pressa, enquanto as ondas acalmam e se abafam na areia e a agulha chega ao fim do disco e o tempo retoma onde tinha parado
O Sol despede-se num longo abraço laranja e a cidade adormece em paz

Liliana Lima






Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto
Pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita
Como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado
Cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços
Como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça
Foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança
Que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz
Composição: Chico Buarque / Vinícius de Moraes