quinta-feira, dezembro 30, 2021

nu.VENS?

As ideias são como nuvens, pequenas nuvens que se vão se formando e moldando à nossa volta a partir dum pequeno fio de fumo nascido no cachimbo duma lagarta sentada num cogumelo colorido. 

Há um momento inicial em que uma pequena névoa nos envolve, como um véu de noiva que descai sobre o nosso rosto e, quase sem darmos conta, altera ligeiramente a luz com que pensamos o mundo.

Esse véu em forma de neblina, quando recorrente, vai-se condensando numa ideia que se instala confortavelmente. Um chapéu feito, de tal forma, à nossa imagem e semelhança que nem nós próprios o vemos a olho nu.

Depois de consistente, a ideia acompanha-nos dia-a-dia, noite-a-noite e em todas as horas mortas quando parece que não pensamos em nada. Vai-se assumindo como o cenário natural das auto-narrativas que projectamos, mesmo quando achamos que as imaginamos num céu limpo e azul claro.

No momento em que as nuvens se tornam de tal forma visíveis no horizonte que já não conseguimos olhar para o Sol sem o ver vestido de Inverno, a ideia está finalmente instalada e pouco podemos fazer para a afastar do pensamento.

Então, num um dia normal, os mais incautos podem convencer-se que, naquele preciso instante, acabaram de formular uma ideia, uma resposta, encontraram uma saída, descobriram o caminho a seguir. 

Mas, na verdade, foi a ideia que se decidiu impor e, naquele momento, nós somos apenas um meio para servir a concretização e materialização duma intenção que, há muito, pairava no nosso subconsciente.  

É que as ideias... as ideias são como nuvens que se formam sobre um ninho de cucos.


Liliana Lima