sábado, janeiro 04, 2020

Crónicas duma Separação Consumada XXIII

O mundo é como um espectáculo de Ilusionismo. Há duas maneiras de o ver, procurando desconstruir todos os momentos na esperança de encontrar cada truque, ou deixando-nos deslumbrar pela magia que o verbo viver acarreta em si mesmo e em nós.

Estes primeiros dias do ano são ricos em promessas, decisões e intenções de mudança, o que não tem mal nenhum a não ser quando a necessidade de mudar nos impede de apreciar o tanto que a vida tem de belo.
É que quando olhamos para o ano que acaba e percebemos que o percorremos no sentido do que acreditamos ser o nosso caminho, a mudança deixa de fazer sentido. 
Há ainda as promessas que, quando percebemos que a mudança não faz falta à capacidade efectiva de sermos felizes, ficam vazias e tornam-se desnecessárias.

A vida é como um espectáculo de magia, podemos escolher se a vivemos na eterna busca do que nos falta ou na imensa gratidão de procurar o tanto que temos.

Por isso, meus amores, não vos trago promessas nem vontades de mudança. 
Nestes primeiros dias deste ano de 2020, trago-vos uma mão-cheia de sonhos, os mesmos que vivemos no ano de 2019. 
Trago a consciência de que me engano muitas vezes e nem sempre consigo manter as boas intenções, mas que tento, sempre, seguir da forma mais correcta e não cometer o mesmo erro duas vezes. 
E trago a alegria inicial das crianças que se encantam por cada nascer do Sol e se surpreendem com todos os arco-íris. 

É que sabem, meus amores, o difícil não é fazer listas bonitas, todos o conseguimos fazer de forma mais ou menos colorida. 
O difícil é mantermo-nos no "nosso" caminho tantas vezes tortuoso, muitas vezes difícil de encontrar no mapa e outras tantas cortado por cruzamentos e rotundas. 

A verdade, meus amores, é que a vida é como um espectáculo de magia. Temos na mão o poder impressionante de escolher a forma como a vivemos, em agonia por não a controlarmos ou deslumbrados por não a controlarmos. 

Eu escolho a segunda opção. E vocês? 
Bom Ano Novo!

Com muito amor,
Mãe


   
Para ser grande, sê inteiro: nada
        Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
        No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
        Brilha, porque alta vive.


14-021933
Fernando Pessoa 
in Odes de Ricardo Reis
Ática, 1946