sexta-feira, novembro 01, 2019

Crónicas duma separação consumada XIII

Filho, há tantas coisas que gostava de te dizer. 
Filho, há tantas coisas que gostava que soubesses o quão grata te sou. 
Filho, há tantas coisas que gostava de te pedir desculpa.

Sempre que não estás, não vens, não apareces ou não dizes de ti... Fico numa luta interna entre o espaço que o silêncio te dá e, hipoteticamente tu desejas (sabes o quão ensurdecedor é o silêncio de um filho?!), e o grito que como qualquer mãe, ancestralmente, te chamo, te reclamo para perto, o mais perto possível de mim.

De tão atento e meigo e companheiro e prestável que és, quase não me dás tempo para te dizer, obrigada! Para te reconfortar na minha identificação e, por isso, compreensão da tua mente inquieta como um pardalito que saltita na relva. Para te assegurar que nos vamos habituando a esses saltitos quase imprevisíveis e à sua cadência insistente e permanente. Para te contar o tanto que podes fazer, assim o queiras, com esse pardalito também chamado ideia, ou mente, ou narrativas, ou subconsciente, de formas mais ou menos (in)conscientes.

Há tantas coisas na vida que não correm como nós gostaríamos... Gostava de te pedir desculpa por não conseguir mostrar-te que há sempre outras tantas (ou mais) que correm melhor do que algum dia esperaríamos. Os óculos com que olhamos à nossa volta, moldam o que vemos, sentimos e compreendemos da realidade, de formas tão profundas que condicionam todas as nossas interacções com "essa" (nossa) verdade. E quando agimos (porque não vivemos em grutas sozinhos e afastados do mundo) tocamos e interferimos com outros, como uma peça de Lego que permite ou anula a possibilidade duma determinada construção. Por isso, e apesar do tanto que não corre como eu própria gostaria, deixa-me ensinar-te a ver com os óculos certos o que a vida de bom nos traz.

Tenho saudades tuas. Obrigada pelo apoio que me dás. Vamos ver as estrelas? (mesmo com a chuva que lá fora cai...)

Com muito amor.
Mãe