Não estás aqui comigo, agora. Nem tu. Nem tu, quase nunca. Mas se estivesses poderia fazer-te uma daquelas perguntas de "gente de letras". Daquelas que nem eu sei se têm resposta, mas que embatem em nós de tal forma que temos mesmo de perguntar.
- Onde está desenhada a linha que separa a parte menos funda da piscina daquela em que, não sabendo nadar, perdemos o pé?
Se aqui estivesses trautearia, com certeza, a Rosalinda*. Ao que qualquer um de vós responderia, lá estás tu com as "tuas cantigas cheias de letra"...
Mas, voltando à piscina, metafórica, que a real já não dá jeito que está fria.
Até onde é que me é devido um esforço diário, por enquanto "apenas" geoestratégico (um nome pomposo como tu gostas) que, no final duma semana me deixa completamente desfeita, como o pinguim da história que mil vezes me ouviste contar?
É esperado que eu mãe, (para) sempre mãe, deixe enrolar a onda, para não levantar... ondas, até que ponto do cansaço?
Qual é o ganho, em termos práticos e mesmo afectivos, em ceder a um conjunto de obrigações agendadas à priori e moldadas para uma escala que não é a minha, ou tua sempre que estás comigo?
Não moro onde deixei que a escola continuasse a morar, não tenho livres todas as horas do dia, nem tão pouco tenho a agenda em branco para preencher.
São todas verdades alienáveis desta nossa nova vida, que estamos a aprender a viver.
São todas verdades que me deixam mais exposta, ou menos protegida, da complexidade de gerir, lá está, geograficamente o dia-a-dia.
E é nesta gestão que me vejo presa, como uma tartaruga numa rede plástica que a obriga a duplicar o esforço para chegar a tona.
E é assim, tartaruga abanando as barbatanas, que deixo a pergunta. Como sei onde está a linha em que me descai o meu "pé de catraia em óleo sujo à beira-mar"*?
Com muito amor,
Mãe
*. Rosalinda de Fausto