É no fundo do mar
que me escondo de mim
e nas conchas procuro a paz
para me encontrar por ti
Sei do canto estridente das gaivotas
e do embalo sedutor das sereias
Sei do areal desnudado pela maré baixa
porque nele me enrosco em mim mesma
Conheço todas as conchas coloridas
que colecciono para te oferecer
É a elas que pergunto por mim
enquanto, escondida, falo de ti
Nado em círculos para te chamar
Mas carregando todo o oceano, receio
que em maré alta transborde
e o teu pé tão catraio, à beira-mar, se suje
Queria conhecer todos os barcos
e inventar uma vela que enfunasse
à força do meu suspiro
e, seca, ao teu lado me deixasse
Mas sempre que, em tornado te tornas
e a mesa reviras e as ideias me baralhas
É no fundo do mar que me escondo
para não desaguar em ti
E sem poderes saber
provocas a maré, que se agita dentro de mim
E sem conseguires entender
chamas a noite que se debate sobre mim
É no fundo do mar
que me escondo de mim
e me embalo na maré
que, espero, me leve a ti
Lili