Vivo numa casa assombrada com vista para o vazio. Um nevoeiro contínuo trespassa as paredes que monto e desmonto como peças de lego procurando, incessantemente, a divisão perfeita, a disposição ideal. Prevendo o amanhã mudo o telhado, ora arejado, ora resistente e impermeável. Jogando com os ontens, tento projectar hojes tranquilos e sem sobressaltos. Abro a porta à ternura, fecho a gaveta à dor, varro a desilusão e escancaro o amor.
Vivo numa casa assombrada com vista para o vazio que corre sobre uma pista que desconheço mas que, à força, quero entender para melhor sobreviver. Altero daqui para que amanhã não caia, construo dali porque o futuro se mostra risonho, avanço agora que não me mete medo e fujo depois porque o amanhã é incerto.
Vivo numa casa...
Vivo?
Sobrevivo numa casa assombrada com vista para o vazio.
E tu?
Liliana
